Retorno a Porto das Caixas
Sou um escritor,
Um escandalizado pela palavra
E eles querem que eu seja claro e fluídico
E lhes traga paz
Sou um escritor,
Um amputado de útero
E eles esperam que eu corra,
Corra para apontar-lhes o caminho
Sou um escritor,
Um pretenso mestre do entalhe a frio em papel
Que entalha as dúvidas antes que elas me empalem, crucifiquem
E eles, os fiéis da fome, esperam que eu lhes traga os pães frescos das respostas
Sou um escritor,
Um capturado-enquanto-fugia
Pelo frio lá fora
E eles, ternos,
Esperam que eu os aqueça
Os não-escandalizados, os não-mutilados, os que não duvidam:
Eles, os que escaparam do frio.
Sammis Rechers
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