segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natalie Grant, cantora gospel americana e sua luta contra o tráfico sexual infantil na Índia


Quando Natalie Grant deparou-se com a tragédia do tráfico sexual infantil no sul da Ásia, a popular cantora sabia que precisava fazer algo a respeito.

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Para ser sincera, eu estava vivendo uma fase onde o dia não tinha horas suficientes para fazer tudo o que eu precisava. Muitas expectativas e obrigações em pauta. Possuía a certeza de que não estava sensível e atenta a nenhuma mudança de rumo na vida. Não tinha tempo para grandes surpresas. Mas quando Deus tem algo a lhe mostrar, é incrível o que Ele usa para chamar sua atenção.

Eu só queria deitar em frente à televisão e apagar. Um episódio da série Law & Order (Lei e ordem) estava passando enquanto eu me deitava na minha cadeira preferida e tomava uma xícara de chá. Eu sabia que os casos mostrados em Law & Order sempre foram baseados em casos reais: “extraídos das manchetes dos jornais!”, gritavam nos comerciais. Mas eu não podia acreditar no que eu estava vendo: meninas de 10, 11, 12 anos, colocadas em jaulas e enviadas para a América como escravas sexuais e forçadas à prostituição. Enquanto sentava em minha casa tão confortável, na cadeira de couro e com uma xícara quente de chá na mão, pensei: “isso não pode ser verdade. Quer dizer, talvez em algum lugar do mundo, mas não na América”. Eu nunca havia escutado o termo “tráfico humano”.

Peguei meu laptop, procurei as palavras, fiquei horrorizada com o que li e com o que vi. Na tela do meu computador, o rosto de lindas e doces meninas, vivendo enjauladas; seus olhos tristes olhavam em minha direção. Pareciam dizer: “você está me vendo?”.

Os rostos e os fatos eram chocantes: seis milhões de crianças são vendidas e abusadas ao redor do mundo, algumas tão pequenas que não chegam a ter cinco ou seis anos de idade. Pelo menos 25 mil destas crianças são enviadas para os EUA, como escravas sexuais. Sim, enviadas para a “terra da liberdade”. Como se a pobreza e o abandono não fossem trágicos o suficiente, muitas destas crianças são mantidas em jaulas e forçadas a cometer atos indescritíveis 50 vezes por dia ou mais.

“Você me vê?” - Caminhos misteriosos. Como isto poderia estar acontecendo? Por que eu nunca havia ouvido sobre isso antes? Conforme eu olhava para a tela do computador, chocada com as histórias destas doces crianças, roubadas em sua inocência e liberdade, eu chorei por horas. Estava quebrantada em saber que tanto mal existia no mundo e que eu estava tão cega, tão desatenta a respeito.

Naquela noite, enquanto lia sobre o tema na internet, encontrei duas organizações cristãs dedicadas em resgatar crianças da prostituição e dar a elas a chance de uma vida saudável: Shared Hope (Esperança Compartilhada) e International Justice Mission (Missão e Justiça Internacional).

Foi como se uma luz se acendesse em minha mente. Na manhã seguinte, liguei para a Shared Hope e desatei a falar como uma louca acerca do que havia descoberto na noite anterior, disse que era cantora e que gostaria de ajudar a falar para as pessoas sobre esta tragédia.

A jovem que me atendeu ao telefone disse: “Acalme-se. Fale devagar. Primeiro me diga seu nome”. Quando eu disse a ela o meu nome, ela respondeu: “Natalie Grant? Fui ao seu show na semana passada!”.

Sempre acreditei firmemente na verdade de que “Deus trabalha por caminhos misteriosos”, mas naquele momento, Deus tornou tudo claro como cristal para mim. Aquele episódio de Law & Order havia sido o início de uma intervenção divina, o começo de algo que iria transformar minha vida para sempre.

Nas ruas de Mumbai - Dentro de poucos meses, meu marido Bernie e eu viajamos para Mumbai (antiga Bombaim), na Índia. Viajamos com a missão Shared Hope e sua fundadora, a ex-senadora Linda Smith. Pude ver com meus próprios olhos a tragédia da escravidão infantil e o que tem sido feito a respeito para interromper este processo. Nunca esquecerei o que vi ali. Não quero esquecer.

Era luz do dia e andávamos pelas ruas de Mumbai, quando vi uma preciosa garotinha olhando para nós. Ela não tinha mais do que sete anos. Seus olhos olhavam nos meus com intensidade. Suas mãos estavam estendidas para fora das barras de uma jaula. Sim, uma jaula nada diferente daquelas onde nós colocamos animais. Meus olhos não conseguiam mover-se dos dela e por alguns segundos, percebi como era a vida desta garotinha. A vida dela era esta, na jaula. Todos os dias pessoas passavam pelas ruas e não olhavam para ela, nem a notavam.

Um homem indiano chamado Deveraj lidera um ministério de resgate de crianças; ele andava conosco pelas ruas. Deveraj disse: “Aqui é onde eles mantêm as meninas. Só as libertam nos horários em que precisam servir aos clientes”. Não sabia o que fazer para não vomitar. Sentei na calçada e chorei por muito tempo.

De Mumbai, viajamos para um local chamado “Vila da Esperança”. Quando resgatam as meninas da cidade, levam as crianças para o que será sua primeira casa de verdade, um lugar maravilhoso. São alimentadas, vestidas, educadas e ensinadas sobre Deus. Foi incrível ver aquelas garotinhas, crianças, pré-adolescentes e as adolescentes que haviam tido experiências inimagináveis de tragédia e abuso, agora felizes e em lugar seguro. Completamente restauradas. Vivendo, respirando um ar de paz vindo de Deus.

Lembro de duas garotinhas em particular, que para minha surpresa, vieram me encorajar. Na semana anterior da minha ida à Índia, sofri uma ruptura nas cordas vocais e os médicos me disseram que eu não poderia falar por 30 dias. No início, pensei que nem poderia viajar. Mas em meu coração eu sabia que esta era a vontade de Deus, que eu fizesse a viagem. Eu não sabia que o silêncio imposto pelos médicos seria uma bênção disfarçada. Muitas vezes falo sem pensar e verbalizo antes de processar as coisas por completo. Agora eu não poderia falar nada e como resultado, senti tudo de forma profunda, pude realmente ouvir e compreender aquela realidade de forma mais aprofundada.

Na Vila da Esperança, conheci duas garotinhas de cinco anos de idade. Uma já havia sido usada para prostituição durante um ano e a outra tinha AIDS. Agora estavam felizes e a salvo, vivendo com a nova esperança. Aquelas doces meninas queriam orar por mim, por minhas cordas vocais. E como oraram! Nunca havia recebido uma oração daquelas em minha vida. Orações vindas do coração, fé e sabedoria espiritual que iam além de sua pouca idade. Foi um momento que levarei comigo para sempre.

Cresci na igreja e sempre senti que conhecia o poder da redenção em nossas vidas, mas nunca havia entendido tão claramente e profundamente como naquele dia. No meio dos sorrisos daquelas garotinhas, seus olhos mostravam esperança e vida nova. Eu encontrei um tesouro e precisava compartilhar acerca dele.

Voz pela justiça - Quando Bernie e eu retornamos para casa, refleti sobre o que eu havia visto e experienciado na Índia. Sabia que eu não podia retornar à mesma vida de sempre. Nunca havia me sentido tão viva e tão determinada a fazer algo que realmente importasse. Sempre acreditei que Deus me deu a voz para cantar e que Ele cria as oportunidades para que eu continue a carreira e viva fazendo aquilo que amo. Mas Deus usou a Índia e aquelas meninas para me mostrar que minha vida de artista tem que ir muito além de cantar. Não estou aqui apenas para cantar. Estou aqui para doar minha vida, dividir as experiências e o conhecimento que Deus me deu, dizer aos outros a respeito da experiência na Índia e o que podemos fazer para apoiar os esforços missionários naquele lugar. Quero que minha música vá além de melodias agradáveis.

Quero inspirar pessoas a serem instrumentos da paz e da justiça de Deus no mundo. Quando estão abertos e desejam usar suas vidas para abençoar a outros, Deus ilumina até os lugares mais escuros.

Natalie Grant é uma cantora cristã norte-americana. É autora do livro The Real Me: Being the Girl God Sees.
Melissa Riddle é uma escritora residente em Nashville (EUA).


FATOS SOBRE O TRÁFICO SEXUAL

A International Organization for Migration estima que a cada ano 500.000 pessoas sejam vendidas para mercados de prostituição na Europa. As vítimas do tráfico sexual são mulheres e homens, meninas e meninos, mas em sua maioria mulheres e meninas. Existe um padrão comum de aliciamento às vítimas para situações de tráfico sexual, incluindo:

* A promessa de um bom emprego em outro país.

* Uma falsa proposta de casamento que se torna um cárcere.

* A venda para o mercado sexual por pais, maridos e namorados.

* Ser seqüestrada diretamente por traficantes.


COMO AJUDAR?

Inspirada em sua experiência na Índia, Natalie fundou a The Home Foundation, uma ONG missionária para lutar contra a escravidão infantil, mobilizar e conscientizar a população, promover ajuda, resgate e restauração para vítimas do tráfico sexual nos EUA e ao redor do mundo.

Melissa Riddle

Copyright © 2008 por Christianity Today International

Para visitar o site oficial da cantora Natalie Grant, clique aqui.

Para visitar o site The Home Foundation, clique aqui.

Um comentário:

Nova Criatura disse...

Que coisa horrível! Eu nem imaginava essa... Me deu uma imensa vontade de chorar agora. É Deus movendo seus filhos para resgatar os sofredores.

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