Dados revelam drama que atinge milhares de famílias
Brasília
Mais de 200 mil pessoas desaparecem no Brasil anualmente – 40 mil são crianças e adolescentes. Deste total, de 10% a 15% jamais retornam para seus lares. Os números são da Associação Brasileira de Busca e Defesa das Crianças Desaparecidas (ABCD) e, de acordo com Ivanise Santos, presidente da entidade, o perfil dos desaparecidos envolve menores de origem pobre, de pele clara e muito bem afeiçoados, mas sem faixa etária definida.
Mãe de uma menina desaparecida há 13 anos, Ivanise acredita que o número de pessoas desaparecidas pode ser ainda maior, sobretudo nas Regiões Norte e Nordeste, onde existem famílias que por desconhecimento não procuram uma delegacia para registrar o desaparecimento de um parente.
– Outro dia, recebi uma mãe cujo filho estava desaparecido há 30 dias e ela não tinha feito o boletim de ocorrência. Ela começou a procurar o filho pelos hospitais e ruas mas não sabia que tinha que ir à delegacia. É raro, mas ainda acontece – conta.
Segundo Ivanise, as autoridades brasileiras ainda deixam de cumprir o que é previsto em lei para os casos de desaparecimento. Ela acredita que o sumiço de uma pessoa é visto, na maioria das vezes, apenas como mais um número que alimenta as estatísticas. A Lei 11.259/06 prevê que toda delegacia, ao registrar uma ocorrência de criança ou adolescente desaparecido, deve começar uma busca imediata, além de acionar aeroportos, portos e terminais rodoviários.
– A polícia não pode alegar o desconhecimento da lei. Nossa Constituição é bem clara quando diz que a criança e o adolescente são responsabilidade da família, do Estado e da sociedade. Há um descaso e um abandono muito grande – critica a presidente da ABCD.
Apesar do desaparecimento de uma pessoa em si não ser enquadrado como crime, Ivanise alertou que há relatos de crianças e adolescentes desaparecidos ligados ao tráfico de órgãos, de pessoas, de drogas e também à adoção ilegal e à exploração sexual. As circunstâncias em que ocorre o desaparecimento, segundo ela, são similares na maioria dos casos e demandam atenção por parte dos responsáveis: crianças e adolescentes geralmente desaparecem enquanto brincam na porta de casa, quando fazem o percurso de ida ou de volta da escola ou quando saem para fazer compras em estabelecimentos comerciais próximos de onde moram.
– A prevenção é primordial e a criança, atualmente, é muito inteligente. Se você conscientizar o seu filho dos perigos que corre, ele não desaparece. São coisas simples como ensinar o número do telefone e o endereço de casa, o nome do pai e da mãe, ensinar a não dar informações para qualquer pessoa estranha que se aproxime dele oferecendo uma bala ou um brinquedo. Procure saber quem são os amigos do seu filho e nunca deixe ele sair de casa desacompanhado – orienta. Ivanise lembra que a primeira providência a ser tomada, caso um menor desaparecido seja identificado, é entrar em contato com o serviço de Disque-Denúncia local ou mesmo para o 190. Ela destaca que a pessoa não precisa se identificar, mas apenas ter a consciência de que aquela criança ou adolescente tem uma família à procura dela.
A associação, também conhecida como Mães da Sé, realiza hoje ato nas escadarias da Praça da Sé, em São Paulo. Mães de crianças e adolescentes desaparecidos farão uma manifestação silenciosa segurando fotos de seus filhos nas escadarias da catedral.
A Catedral da Sé recebeu uma iluminação especial para o protesto. Luzes cor de rosa destacarão as paredes da fachada no final da tarde. A intenção do ato é alertar população sobre o drama que afeta centenas de milhares de famílias brasileiras. No ano passado, apenas na cidade de São Paulo, foram registrados cerca de 1.500 casos novos de desaparecimento.
Está prevista, também, a celebração de uma missa em homenagem a todas as mulheres que enfrentam esse drama, além da apresentação do Coral Vozes da Catedral de São Paulo e São Gonçalo. A Associação Paulista de Medicina disponibilizará em seu endereço eletrônico na internet um link para o site das ABCD/Mães da Sé, para que profissionais de medicina e a população tenham acesso às fotos das crianças desaparecidas e possam ajudar na localização.
Fonte: Jornal do Brasil
(com agências)
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