sexta-feira, 16 de abril de 2010

Bateu um Desânimo...

Ângela Mara
 
     Há pouco tempo, enquanto lia uma revista sobre saúde, algo chamou a minha atenção. Foi na seção de respostas a cartas de leitores sobre animais de estimação. Alguém descrevia os sintomas que seu cachorro estava apresentando e pedia orientação sobre o que poderia estar acontecendo com seu cão. A médica veterinária que foi consultada deu o seguinte diagnóstico:
     “De acordo com os sintomas relatados, seu cachorro está com estresse.”
     Eu fiquei impressionada com isso. Parece que nem os animais estão livres desse mal que nos assombra hoje em dia. Vivemos sob pressão. Nossa rotina sozinha já nos sufoca. E, quando algo inesperado então acontece, é o caos.
     Ninguém está livre de preocupações e contratempos. O trabalho é uma fonte de estresse. Mas, por outro lado, a falta dele, o desemprego, é uma fonte muito maior. Ainda temos de levar em conta as tragédias e as perdas pessoais que muitos experimentam. É bom lembrarmos que as crianças e os adolescentes estão igualmente sujeitos a tudo isso. Se nem os animais se acham livres desse mal, as pessoas que têm menos de vinte anos também não estão isentas.
     Normalmente não depende de nós controlar os efeitos do estresse. No entanto, podemos tomar algumas medidas que alterem nossa rotina e minimizem o impacto das circunstâncias e dos imprevistos sobre o nosso emocional.

     Bem antes de ler essa revista a que me referi no início, eu havia lido algo na Bíblia que tem me ajudado muito nos últimos trinta anos da minha vida. Não se trata de uma frase tipo “abracadabra”. Não é nada mágico. É doce. É uma das palavras mais doces que já ouvi. Mateus registra, em seu Evangelho, um convite que Jesus fez às pessoas:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.” (11.28,29.)
     Como algo que foi dito há tanto tempo pode afetar nossa vida de alguma forma? O que Jesus sabe a respeito do que estamos passando? O que essas palavras significam?
Bom... Vamos por etapas.

O tempo
     Quando Jesus fez esse convite, o Império Romano dominava absoluto. Antes de Roma, porém, um poderoso conquistador havia alastrado seu poder pelo mundo. Foi Alexandre, o Grande. Esse governante espalhara seus exércitos e disseminara a língua grega por quase todos os cantos. Nessa expansão, imprimira um modo e estilo de vida que era dominante em quase todos os povos da época. Apenas algumas nações do Oriente não sofreram tal domínio – China, por exemplo.
     Então vejamos o que tínhamos: uma potência que controlava outros povos; uma língua que fora escolhida como padrão para as nações, apesar de cada uma já ter seu idioma próprio; um estilo de vida quase idêntico para pessoas de culturas antes bastante diferentes; a classe pobre da população sofrendo todo tipo de necessidade; a violência dominando absoluta; uma sensação geral de se estar vivendo o final dos tempos.
     Isso não nos parece familiar? Essa é a descrição do mundo do tempo de Jesus. Mas bem que poderia ser a do nosso. Ou não?
     Jesus dirigia um convite a pessoas que enfrentavam uma sociedade egoísta, alheia aos problemas individuais. A época era de grande inquietação e desesperança.
     É, parece que o tempo não está tão distante assim. Mistura-se perfeitamente ao nosso. Apesar de todo o avanço, de toda a tecnologia, de tantas descobertas e de tantas mudanças, sofremos pressões psicológicas e emocionais muito parecidas com as que aturdiam as pessoas no primeiro século. Obviamente, elas não se preocupavam com os mesmos tipos de “necessidades” que nos são impostas hoje em dia, isso é inquestionável. Mas, para o íntimo do ser humano, as conseqüências das pressões, preocupações, ansiedades e desesperança são idênticas sempre. Não importa a época em que se vive. Será que existe algo mais rudimentar que a depressão? Quando nossos sentimentos se voltam contra nós, não há onde encontrar abrigo. Justamente porque o que nos ataca não está ao nosso redor, está dentro de nós, são nossas próprias emoções.

Jesus nos conhece
     Só Jesus pode penetrar profundamente nosso interior. Por isso seu convite continua valendo ainda hoje. “Vinde a mim.”
     Quando Cristo veio à Terra como um ser humano comum – apenas a concepção foi diferente – mostrou todo o seu interesse por nós. Além disso, ele experimentou tudo o que sentimos e sofremos. Tornou-se semelhante a nós. A humanidade de Jesus nos aproxima dele. Se ele chama “Vinde a mim”, é porque ele pode nos receber, nos acolher e mostrar para nós a solução.
     Não há recâmara oculta em nosso interior – pelo menos, não para o Salvador. Cada pedacinho nosso está descoberto diante de Deus. E isso é uma grande vantagem. Jesus nos vê por inteiro. Melhor ainda: ele nos aceita como somos e ainda nos oferece escape.

O significado dessas palavras
     “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.”
     O que deixa você cansado? O que está sobrecarregando-o?
Jesus não fala de um cansaço natural, mas daquele que se tornou crônico. Às vezes, falta energia até para sair da cama. O corpo não obedece mais.
     Hoje em dia, assumimos muitos compromissos. São tantas as “necessidades” de consumo e de se manter ou conquistar um certo padrão de vida, que nosso emocional não consegue suportar muito tempo. E se tudo isso encontra no nosso organismo uma predisposição genética, ou uma saturação física, ou um insuportável sentimento de perda, ou uma amargura profunda, ou a soma de todos esses ingredientes, então a depressão nos vence.
     E todos nós estamos sujeitos a isso. Mesmo quem já aceitou esse convite de Jesus. Mesmo quem já conhece profundamente o Salvador. São muitos os fatores que interferem nessa área do nosso ser; inclusive os que são genéticos, orgânicos, etc.
     O que encontramos nesse convite é a promessa de que acharemos alívio e descanso para a nossa alma. E não é exatamente disso que precisamos?
     Jesus é manso e humilde de coração. Confiar em alguém assim nos nossos dias é muito complicado. Vivemos a pressão do ter, do adquirir, do armazenar, do “conquistar um lugar ao sol”. Nunca acreditamos que já podemos descansar de nossas preocupações e simplesmente viver a vida que Deus nos dá. Isso para nós é praticamente impossível.
     No entanto, são justamente estas facetas de seu caráter – mansidão e humildade – que Jesus apresenta quando nos promete descanso para a nossa alma. Podemos então concluir que é de extrema importância que também adotemos essa postura em nosso viver. Temos de investir é em tranqüilidade, em simplicidade, em gratidão, em solidariedade, em amor. Devemos ser mansos e humildes. E é bom lembrar que humildade não é sinônimo de pobreza. Só o fato de ser pobre não determina que uma pessoa é humilde. O que conta, sempre, para Deus, é o coração. Humilde de coração. E manso.
     É fácil aceitar um convite tão amoroso. E se quem nos faz esse convite é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, não há do que duvidar. Podemos ir a ele sem titubear, sem receios nem restrições.
     Sem dúvida nenhuma, não pode haver nada melhor nesta vida do que nos aninharmos nos braços de Jesus e encontrarmos descanso para a nossa alma.

     Ângela Mara Leite Drumond é revisora da Editora Betânia. É membro da Igreja IEMP de Belo Horizonte.
 
Fonte: Revista MENSAGEM DA CRUZ

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