segunda-feira, 5 de julho de 2010

Soneto do Desmantelo Azul


Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vestiginosamente azul. Azul.

Carlos Pena Filho
(Transcrito de O livro de Carlos, p. 73)
In Os 100 Maiores Poetas Brasileiros do Século XX (José Nêumanne Pinto)

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