Claude Howell
Acordo Sempre Onde a Traição Impera
Acordo sempre onde a traição impera
Onde o inverno é o sumo deus de cada coração e lar
E um caldo ralo de lavagem, em sujo alguidar
É o holocausto que deitam à primavera
Sempre desperto em países distantes
Ontem hoje e a cada dia piores do que antes
Sempre acordo num condado sombrio
Povoado de caveiras a abraçarem-me com seu frio
Acordo mormente triste num mundo nefando
Erigido com os átomos do Mal
Cujo diuturno crepúsculo vai tudo sepultando
Da aurora austral à boreal
E não finda ou morre,
Moendo tudo em seu negro bojo
Disto acordo já cheio de nojo
Aos chutes despertam-me a cada novo dia
No centro de um fausto baile à fantasia
Onde todos, democratas, vestem-se de Mephisto
Cativo, arreio a cangalha que deitam ao meu corpo imundo
E mostro-lhes, em chagas e nu, meu eu profundo,
Desvelando no meu, vil, o ardente Coração de Cristo
A multidão bacante gargalha, mas três ou quatro arlequins
Num brilho de olhar, entendem que Um Outro Mundo Existe
E o restolho de esperança trôpega que há em mim
Nestes tênues olhares que brilham, resiste e subsiste
Desperto à meia-noite aos gritos de um tordo,
Sempre divisando já, no horizonte do dia
A doce hora de deitar, unívoca alegria
E quando deito sonho que neste mundo não acordo
E nesta hora, dentro deste sonho meu nunca vero
Sonho então o meu único sonho verdadeiro:
Vejo, Senhor Jesus, ao ressonar mais uma vez
Na cama solitária de minha invalidez
Num repente, à minha volta,
Romperem-se em grã revolta
As paredes de minha húmil choupana,
Fogo a grassar, da cama ao teto da cabana
E meu corpo, ardente, posto agora a flutuar
E então, em A Tua Volta,
Em O Teu Grande Dia (que havia de chegar)
Eu, transido em nova natureza, derradeiramente DESPERTAR.
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