A solidão é como uma dimensão paralela, conquanto a todos manifesta, cujas paisagens duplamente mudas e dolorosa ou pacificamente estáticas podem ser apreciadas apenas por muito poucos espíritos. Ela é o primaz e fundamental campo de reflexão; seu divã, sua moldura, sua própria câmara de maturação. E câmara de maturação do Homem. Daqui decorre o instintivo medo de tantos em relação à solidão: seu medo é o medo da criança em relação à idade adulta. Medo da expansão (como ocorre no câncer, crescer pode não ser também perder o controle?), pois na contrição da solidão, no ilusório 'encolhimento' que ela parece causar, na verdade expandimo-nos para ocupar espaços. Espaços nossos que precisam de nós.
E como se pode plenamente valorizar a comunhão se não experimentamos profundamente sua negação, sua antítese? Quão ‘doce’ a água se afigura para aqueles que suportaram prolongada sede!
E aqui está o fruto da sabedoria: o quanto se aprendeu sobre o tempo em que é possível a um homem viver com ela – conhecimento antes desconhecido ou subavaliado! O quanto o homem suporta de solidão: tal conhecimento inaugura com chave áurea as reflexões socráticas do “conhece-te a ti mesmo”.
Sua Bíblia pode lhe ajudar aqui com um versículo, amigo leitor: "Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade; assentar-se solitário, e ficar em silêncio; porquanto Deus o pós sobre ele." (Lm 3.27,28).
No mais, dizia Shakespeare, mestre do trágico (mas que sábia ou temerosamente evitava em sua obra os temas teológicos): “Estar maduro é tudo.”
Sammis Reachers
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