Este livro é um pequenino mimo. Poemas e livro possuem
uma única leitora efetiva ou assertiva, que acumula as vezes de musa e
destinatária dos versos – minha Érika.
O título
do livro decorre de a franca maioria dos poemas ter sido escrita em trânsito –
dentro de ônibus e, em geral, quando eu atravessava a baía de Guanabara em
regresso para a São Gonçalo de meu desmazelo, vindo dos encontros no Rio de
Janeiro com a minha então (primeiro) amiga, depois namorada, hoje esposa,
consorte, âncora de Deus e fofa metade.
Poemas não
‘trabalhados’, mas instantâneos, escritos no celular e imediatamente remetidos
de volta à sua origem – e nisso mesmo mais preciosos, frutos do puro e
espontâneo enlevo poético e sua escrita quase automática, irrefreável (e os
poetas sabem do que falo).
Passeios
no Jardim Botânico (onde os bancos guardam nossos nomes), na praia de
Copacabana – onde enfrentamos duas tempestades climáticas e uma relacional... Tours regados a café expresso pelos museus
diversos do centro da cidade... Nossos beijos entre os livros (onde mais?) da aprazível
Biblioteca Parque Estadual, e uma tarde edênica, elísia, no Jardim Suspenso do
Valongo... A distância e a incompatibilidade de horários tornavam os encontros
poucos e esparramados pelo calendário, mas eram sempre repletos daquela magia arcana
do amor que já julguei extinta (até vivenciá-la) e que hoje se perde (ou já nem
chega a ser divisada) nos relacionamentos líquidos – e redundaram quase todos
em poemas.
Esse
livrinho despretensioso é só para ela. Se o torno público, é tão-só para
alegrá-la, e porque reza a justiça que compete, aos amores grandes, quando
realizados, a comunicação de seu sucesso. No mais, sou um poeta na acepção mais
triste do termo: mal tenho onde cair morto. Entanto, se muitas ganham joias e
viagens, Pajeros e poodles, quão poucas hoje em dia podem ganhar um humílimo poema
que se sustente – ou as sustenha desse ar eletrificado que a poesia insufla...
E quão ínfimo é o time daquelas musas, quando musas, que possuem um livro pra
chamar de seu.
E, assim,
acerto minha gravata borboleta, meu terno surrado de poeta falido – e declaro
sem cerimônias meu profundo e grato amor.
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