O motorista Luís Otávio trabalhava à época na empresa
Fortaleza, em Niterói. A Fortaleza é uma empresa
pequena, de apenas duas linhas. Luís trabalhava na linha
53, no turno da tarde. Seu veículo era um “micrinho”, um
pequeno micro-ônibus Volkswagen de apenas 16 lugares.
Certo sábado, vindo pela rua Tiradentes, lá pelas cinco
da tarde, um indivíduo dá sinal, sozinho no ponto. Um
homem moreno, de olhar pacato, bem vestido. Ao subir,
pediu para o motorista liberar a roleta, que ele iria pegar o
dinheiro, após sentar-se. Sentou-se atrás do motorista, no
pequeno banquinho solitário.
Após alguns instantes, o pesado Luizão ouve algumas
batidas no vidro de trás. Instintivamente ele, sem olhar,
estica a mão para trás, em concha, na intenção de pegar o
dinheiro. Mas ao invés de dinheiro apalpa um volume duro
e gelado. Nisso o indivíduo aproxima-se do vidro, ficando
bem próximo de Luís Otávio, e diz:
– Solta, solta.
Luís olha para trás, no susto, e percebe que apalpara
uma arma!
– Amigo, fique tranquilo aí. Eu vou fazer um ganho aqui,
mas não vou mexer com você não, nem vou machucar
ninguém. Fique muito tranquilo.
Assustado, Luisão ainda conseguiu dizer, sempre num
tom de voz baixo, como o do gatuno:
– Cara, não vá perder cabeça... pensa na sua vida.
– Fica tranquilo.
Em seguida o indivíduo levantou-se. E aí veio o
inusitado.
– Senhoras e senhores, boa tarde. Desculpe por
atrapalhar o silêncio da sua viagem. Eu estou hoje aqui pois
estou desesperado, e tenho duas crianças com fome em
casa. Eu tinha que tomar uma atitude. Desde já peço
desculpa a todos, mas minha situação está difícil.
Somente então, após essas ternas palavras, o indivíduo
sacou a arma.
– Isto é um assalto. Mas fiquem tranquilos e me
desculpem, tá? Podem ir passando o dinheiro, relógios e
joias aí.
Os passageiros, entre confusos e apavorados, foram
logo passando seus pertences para o indivíduo.
Enquanto isso, ao volante do veículo, mas prestando
atenção no discurso e nas ações do estranho meliante, Luís
estava muito confuso; nunca vira um ladrão pedindo
desculpas e falando daquela forma. Apesar da sinistra
situação, nosso amigo não sabia se ria ou se chorava.
Começou a chorar então. Chorar de rir.
Após realizar a coleta e pedir muitas desculpas a cada
um de quem apanhava os despojos, o marginal foi para a
frente.
– Motorista, devagar por favor. Eu vou descer ali perto
do (clube) Canto do Rio.
Antes de descer, disse aos passageiros, todos
tosquiados que nem cachorrinhos de madame:
– Peço mais uma vez desculpas a todos. Não sou um
marginal. Estou apenas pegando esse empréstimo com
vocês para poder resolver minha situação. São duas
crianças. Me desculpem mesmo. Tenham uma boa viagem,
vão com Deus.
Nesse momento Luís não aguentou, e riu um pouco
mais alto. O indivíduo olhou sério para ele. Luís ficou
quieto, agora arrependido de ter sorrido.
– Poxa, me esqueci de pagar a passagem, né?
– Não, não, amigo, tá tranquilo – disse o motorista.
– Não, que isso – disse o bom larápio. Enfiando então a
mão na sacola de seus ganhos, puxou uma nota e disse:
– Segura aqui vinte reais, pode ficar com o troco.
E desceu, sob os olhares entre desnorteados e furiosos
dos passageiros.
– Ei ei, por que ele não te roubou? E que parada é essa
dele te dar vinte reais? Você está mancomunado com o
marginal – Foi logo dizendo um dos clientes.
Luís não conseguia parar de sorrir, seja por nervoso seja
pelo inacreditável da situação. E foi assim que nosso amigo
Luís Otávio foi posto numa situação pra lá de delicada pelo
educado ladrão, pois todos os passageiros se levantaram e
foram pra cima dele, coitado...
Essa é uma das quarenta histórias verídicas e hilárias do livro RODORISOS - Histórias Hilariantes do Dia-a-dia dos Rodoviários (à venda nas modalidades impressa e e-book, na Amazon).
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