terça-feira, 26 de outubro de 2021

Chuva de balas dos arcades para seu celular: Os shmups da Psikyo

A Psikyo foi uma desenvolvedora de jogos cuja uma das especialidades eram os shoot 'em ups, geralmente abreviados para shmups, que são, em bom português, os jogos de navinha. A empresa é autora de clássicos dos arcades, como Samurai Aces e Strikers 1945.

Perdi muitas fichas jogando o sensacional Samurai Aces, com seu considerável nível de dificuldade, e a interessante tela/tubo colocada na vertical, "em pé", o que não era (ou já não era) muito comum no mundo arcadiano.

Já o Strikers 1945, outro sucesso dos arcades, ah, esse foi dos melhores shmups que o Playstation One (e eu) já vimos. Como me diverti na época, lá pelos meus vinte aninhos, começando a trabalhar, e cujo segundo salário inteiro foi gasto na aquisição de um PS1! Um dos jogos que mais me fissuravam era justamente o Strikers.

Mas o tempo passou, o reino arcadiano caducou e a Psikyo (que a essa altura há havia mudado de dono), como qualquer empresa, precisou se virar nos trinta para sobreviver. Uma alternativa, aliás seguida por muitas desenvolvedoras, foi ofertar seus jogos para a nova e universal "plataforma" que surgiu: Os smartphones ou o universo mobile

E para melhorar a penetração, que tal distribuir os jogos de graça, free? Bem, nem tão de graça assim: A opção foi disponibilizar os jogos na forma de freemium: Além das constantes propagandas, você pode  - e é constantemente incentivado a isso - comprar itens para incrementar sua jogatina. Com essa chegada ao universo Android/iOS, uma leva poderoríssima de shmups 2D se tornou, e já há um bom tempo, disponível para os aficionados e os navegadores de primeira viagem. 

Nesse jogo de adaptações do plantel Psikyo para Android/iOS, muitas outras software houses entraram em ação, o que achamos desnecessário especificar aqui. Concentremo-nos na MÃE e seus REBENTOS, seus furiosos filhotes. Mas é preciso informar que você encontrará a maioria desses jogos em mais de uma versão, geralmente indo de pequenas a consideráveis variações entre uma e outra - pois um mesmo jogo pode ter sido portado por duas desenvolvedoras diferentes. O negócio é testar e ver qual lhe agrada mais. É de graça...

É conhecimento pacífico que gamers raiz não curtem muito (alguns nem um pouco) jogar num smartphone. Sentem-se desvirtuados! Mas, convenhamos: Aquele momento angustioso em pé naquela fila, ou sentado no busão, metrô, barcaça, trem ou avião, longe (seja por distância física, seja financeira) de um console portátil, pode ser remediado facilmente com um democrático joguinho desses.

Vamos então dar uma olhadela geral nessas belezuras?



Samurai Aces (Sengoku Ace: Tengai Episode 1 no Japão), que surgiu nos arcades em 1993, é na verdade o primeiro episódio da "saga" Sengoku/Tengai. Se nos Tengais subsequentes nossos heróis voam no poder mutante da levitação, sozinhos, aqui eles aparecem ainda a bordo de naves - ou melhor, simpaticíssimos aviões. Até uma cópia descarada um modelo inspirado no X-Wing de Star Wars está presente. O jogo é um clássico dos fliperamas, e os gritos dos personagens, bem como algumas das bombas/especiais, estão eternizados na mente dos sofridos jogadores - sofridos, pois a dificuldade do jogo em geral era alta. Como em outro clássico da época ou de todas as épocas, o Sonic Wings (Aero Fighters) aqui o poder de tiro conferido pelos powerups vai decaindo com o tempo, sendo necessário estar sempre em busca de novos powerups para manter um poder de fogo decente. Falando em Sonic Wings (jogo nascido em 1992 pelas mãos da Video System), o seu criador foi o mesmo de Samurai Aces: Shin Nakamura, por sinal também o fundador da Psikyo. Hum, isso explica muita coisa!

A história da saga se passa num fantasioso Japão feudal steampunk. A missão de nossos aventureiros consiste em impedir os planos de uma seita maligna e ainda por cima salvar a filha do Shogun, a bela Tsukihime (Princesa da Lua), surrupiada para servir de sacrifício, sacrifício cujo objetivo é ressuscitar o rei-demônio.

O jogo apresenta uma rolagem vertical, o que foi trocado pela rolagem horizontal nos demais jogos da saga Tengai. 

Minha educação shmupmaníaca passou por assistir a duras aulas nessa escola!!!


Em 1996 veio à luz Tengai (Sengoku Blade no Japão, e que podemos entender como Tengai 2). Nessa nova aventura, agora em rolagem horizontal, você pode optar por um dentre seis personagens. Ainda mais que no jogo anterior, cada guerreiro possui tiros e especiais (bombas) diferentes, e a estratégia de jogo precisará ser adaptada a cada personagem. Na última fase, o jogo apresenta duas opções de caminho até o chefão: Entrando de peito, na voadora, pela porta da frente, ou escolhendo o clássico e furtivo modo ninja, penetrando no palácio por uma passagem secreta. Em cada um, o chefão (que é o mesmo) se apresentará de uma forma diferente. E, claro, são também dois os finais possíveis para o jogador. Num deles, salvando a princesa Futsuhime (epa, no jogo anterior a princesa tinha outro nome); noutro, derrotando o vilão mas vendo a princesinha escafeder-se junto... 

No momento da pesquisa para este artigo, havia três Tengais "2" disponíveis na app store do Google Play (Tengai Classic, Saga ou M) nos quais temos pequeninas, pequeniníssimas variações, como os personagens que começam bloqueados no Tengai M, por exemplo.


Filho da desenvolvedora X-Nauts, que foi a sucessora espiritual da quebrada Psikyo, Sengoku 3 (Sengoku Cannon) saiu em 2004 para arcades e alguns consoles, mas infelizmente ainda não está disponível para smartphones. 


A próxima franquia é a igualmente sensacional Strikers. O jogo inaugural surgiu para os arcades em 1995, sendo seguido por Strikers 1945 II em 1997 e Strikers 1945 III em 1999. Houve ainda a versão/remake Strikers 1945 Plus - todos com rolagem vertical. Os jogos saíram para diversos consoles além dos arcades.

A história do jogo é a que segue: Após o fim dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, a ainda frágil atmosfera de paz do globo é violada pelas ações de uma organização sombria denominada CANY. Eles planejam dominar o mundo, valendo-se de superarmas jamais vistas. Contra esse conclave malévolo, as Nações Unidas (ou ente semelhante) reúnem seis pilotos de elite para dar cabo dos canalhas. Tais pilotos estão à frente de seis aeronaves clássicas do período da SGM.

Strikers 1945 I apresenta, além do tiro normal e das bombas, um tiro especial, baseado em carregamento de barra ou temporal - outra característica dos shmups da Psikyo. Os tiros podem ser melhorados via powerups. Falando em características Psi, aqui os chefões também apresentam mais de uma forma de combate.


Em Strikers 1945 II a tempestade de chumbo continua a cair. Ainda assim, esse pode ser considerado o mais tranquilo da série, em termos de facilidade (modo easy, please). Uma bela inovação deste game é a possibilidade de, a custo de algumas módicas moedas, "comprar" um partner (parceiro), um avião aleatório que lhe acompanha enquanto a sua ficha durar. Além de combater por conta própria, sempre que você dá o tiro especial ou solta a bomba, ele imita o chefinho. Uma ajuda providencial! Outra novidade é que aqui o tiro especial conta com uma barra de energia de três níveis, e quanto mais tempo você esperá-la carregar, mais forte será o disparo. 

Há ainda o Strikers Saga, que na verdade é o mesmo Strikers II, mas num esquema de gameloop onde as oito fases se repetem trocentas vezes, cada vez mais difíceis. Até onde aguentei jogar, após muitas repetições, nada de final. O mesmo esquema ocorre com Strikers 1999 Saga.



Strikers 1945 III (também conhecido como Strikers 1999) se passa 54 anos depois dos eventos transcorridos nos dois primeiros jogos. Daí a utilização de aeronaves "atuais". Desta vez, um enxame alien de forças micro robóticas denominadas nanites desabou sobre a sofrida Terra, infectando equipamentos militares em todo o mundo, passando a controlá-los. Apenas um pequeno número de aeronaves conseguiu ser recuperado do controle nanite, e tais aeronaves serão a última esperança das Forças Militares Unidas da Terra.

Neste game foi introduzida uma interessantíssima novidade: O technical bonus (bônus técnico). Durante o combate, os chefões, momentaneamente, exibem seu pequeno ponto fraco, como se fosse seu "coração": Neste exato momento, você pode jogar sua nave, numa manobra kamikaze, contra o referido ponto que, se tocado, elimina imediatamente o adversário. 

Há vários ports deste jogo; escolha, sem medo, o Strikers 1999 da S&C, que é o mais bonito/fiel.



Gunbird é a próxima franquia dessa divertidíssima família Psikyo. Surgida em 1994 para os arcades, a trama do jogo reúne diversos personagens (um carnaval envolvendo mágicos, místicos e até seres tecnológicos) numa cruzada em busca das partes de um espelho mágico - espelho com poder de, uma vez remontado, conceder desejos... Ao fim dos combates, cada personagem pode escolher entre duas opções de desejo - logo, de finais - possíveis. A cada passagem de fase, divertidos diálogos se desenrolam entre os personagens. Os finais do jogo são igualmente hilários. Um dos finais chega a citar o Brasil e o Rickson Gracie, aquele mesmo, da lendária família de mestres de jiu-jitsu... E, como se fosse pouco, os chefões da maioria das fases - uma espécie de trio de piratas steampunk e suas engenhocas - são também paspalhões, com uma pegada à la Dick Vigarista. 

Como em Aerofighters ou Tengai, o tiro de seu personagem (chamemo-lo, à moda carioca, de boneco) vai perdendo potência, e é necessário apanhar sempre novos powerups. No mais, todo o padrão básico Psikyo está aqui, com o tiro especial (sem evolução de nível) e a bomba. 


Em 1998 foi a vez de Gunbird 2. Agora, novos personagens se juntam à aventura, enquanto outros dão adeus. Até Alucard, o filho de Drácula, está presente. Os tal trio de piratas steampunk está de volta, com novas geringonças neste game de grande beleza. Dessa vez, sete ases são desafiados a saírem em busca de poções mágicas que, quando reunidas, formam a poção-Deus, capaz de conceder maravilhas ao seu detentor.

Além do tiro ordinário e das bombas, um novo método de tiro especial foi introduzido: Com um simples toque, o personagem efetua um golpe/disparo; pressionando para carregar e soltando o mesmo botão, outro tipo de disparo é efetuado (na versão/port da S&C; na da Mobirix - mais fácil, porém bem menos rica - o tiro especial se desdobra em dois botões, cada um com uma função).

Neste segundo episódio (port da S&C), você pode comprar partners, os tradicionais ajudantes. Até 20 (!) personagens são colecionáveis - mas, calma lá: São os mesmos seis personagens do jogo, que podem variar na habilidade/poder/vantagem que acrescentam, quando utilizados. E mais: Você pode evoluir o level deles, que permanece salvo no estado em que você deixar. Falando em comprar, o jogo conta com diversos novos métodos de pontuação e premiação, além de itens adquiríveis.

Essas e outras funcionalidades e inovações fazem de Gunbird 2 uma diversão certeira!



Por fim, o visualmente belíssimo Dragon Blaze, que chegou nos arcades no redondo ano 2000. Foi um dos últimos jogos produzidos pela Psikyo "raiz". No jogo, você pilota (guia? Toca? Conduz?) poderosos dragões de batalha. São quatro os cavaleiros alados disponíveis, cujos tiros, especiais e parafernálias, claro, variam conforme o personagem: Quaid, Sonia (opa, será a Sonia Blaze de Mortal Kombat? Epa, mas aquela é Sonia Blade...), Ian e Rob. Juntos, eles lutam para desbaratar as forças do rei-demônio Nebiros.

Além do tiro normal e normalmente melhorado via powerups, há um disparo especial (que se carrega à medida em que você derruba adversários) e as bombas. Temos ainda um interessante movimento que consiste no "lançamento de dragão": Clicando no botão correspondente, seu dragão é catapultado, ficando à sua frente, como um drone ou orb, enquanto seu personagem passa a voar por conta própria.  O dragão dispara sem cessar e não pode ser morto - a menos que seu personagem seja abatido. Você pode chamar o lagartauro de volta clicando novamente no botão correspondente. Durante tal manobra de desacoplagem, o tiro do personagem se enfraquece (já que se separa do dragão, que possui o disparo mais forte). Ainda durante esse método, você pode disparar o tiro especial, que terá então um efeito/alcance diferente daquele que tem quando você está montado na fera. Outra vantagem desse lançamento de dragão é que ele, ao chocar-se contra algum adversário (principalmente os maiores) arranca MOEDAS DE OURO deles, sendo que normalmente o jogo só libera genéricas moedas de prata. Ah, e tem mais: Os dragões nesse modo drone-torpedo também coletam itens da tela, algo incomum nos shmups que possuem orbs ou naves auxiliares. Já deu pra ver que essa simples inovação enriquece muitíssimo sua experiência jogatinesca!

Os chefões, assim como os cenários, são belíssimos e seguem o padrão Pskyo: Assumem de duas a mais formas durante o combate. A última fase do jogo é como uma pegadinha infernal: A cada sinistro adversário, você acredita tratar-se do chefão, mas... E tome ma(i)s nisso.


A maioria desses games receberam ports individuas ou via coletâneas para consoles como PS1, 2 e 3, Sega Saturn, Dreamcast e outros. Tais jogos (bem como todo o restante plantel de shmups da Psikyo) estão também disponíveis no Steam, em média a 20 reais cada, além é claro das coletâneas Psikyo Shootings Star Alfa e Bravo, disponíveis para Nintendo Switch.

Mas, e este é o motivo deste artigo, toda essa diversão está gratuitamente ao alcance de seus dedos, em seu celular. Bora lá!



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