Desde a minha juventude e inícios no pot-pourri literário, travo trato com um camarada cujos versos sempre me fizeram rir, mas rir aquele riso culpado, pela força de sua ironia cínica, de seu "veneno".
Com o tempo, seguimos caminhos diferentes, mas nunca deixei de, sempre que possível, acompanhar a produção deste enfant terrible, Mathias Raws, de quem até já publiquei alguns poemas. E falando neles, olha essa pérola do politicamente incorreto, do que NÃO DEVIA SER PUBLICADO, mas aqui devidamente publicado, pois ainda sou desses:
Cantiga de bem-dizer
Mathias Raws
O moçoilo respondia por Mateus ou Enzo, ou outra
Dessas alcunhas de millenial.
Poetastro de sarau, canário de churrascaria
Desprimaverou-se certa feita numa meia lapada
dum marido bravo (uma sapatão espadaúda)
Que tomou por dentre a centralidade do lombo,
Dedos uns quatro acima dos rins, de reverberar
No umbigo bojudo, desses de males-paridos.
Antes de exaurida a semana cataclísmica,
Mudou-se de bairro, despiu camisas tribais. Arrumou
um trabalho fixo na agência Fiat dum padrinho.
Deixou tertúlias e representatividades, endureceu
(Ou ressignificou?) o teso grelo de sua sensibilidade e
Virou foi homem, feito o pai queria, ainda que no susto,
finando o boy progressista. Cancelou-se e foi cancelado,
na frieza das redes que abandonara, nascituro.
Sim, inesperadamente homem, antidecolonial anacronia.
Transmutado, veja você, por uma ninharia dum
Soco, um murro
no meio pitagórico das costas, no olho da meiota.
Um só, um soco
no momento em que declamava um poema num palanquim.
E foi o dia e a tarde da vida camaleônica do fluídico Mateus ou Enzo,
ressignificado, senhorxs,
Pela força contundente dum soco duma sapatão.
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