quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Sobre quadrinhos, literatura e ciclos completados

 

Boa parte de minha adolescência foi devotada aos quadrinhos. Na época, juntava dinheirinho por meses para poder ir aos sebos e bancas de Niterói, comprar revistas usadas. Com o tempo, a melhora econômica me permitiu até a poder comprar regularmente algumas revistas novas, em banca. Mas, paralelamente, meu interesse por literatura crescia, e avançou até um ponto de inflexão, onde eu conclui que teria que optar entre quadrinhos e literatura, pois o tempo e os recursos gastos com HQs passaram a me significar de menor valia.

O tempo passou, li os clássicos e os cretinos, li de quase tudo e entendi que tudo era quase nada, pois o oceano da literatura não tem fim ou fundo. Na memória do ex-marvete, ex-dcnauta, ficaram algumas lacunas, histórias inconclusas, pois nunca pude encontrar em sebos as revistas onde elas foram contadas, e não havia internet, a que hoje me permite comprar o livro ou revista que eu quiser. E houve a troca de foco, e houve a vida, esse tumulto.

Então hoje, após o período produtivo de um dia de folga (dedicado a criá-los, a meus sequestradores, os livros), fazendo uma busca aleatória após o almoço, fui jogado num blog que publica quadrinhos antigos.

E meus olhos cansados de menino viram o de há muito cobiçado e desistido. E eu, durante o resto da tarde e noite, pude tributar ao menino, pude ler duas histórias (mais de 400 páginas no total!), na verdade a conclusão de duas sagas da Marvel dos anos 80/90: o desfecho da Guerra dos Espectros, travada pelo cavaleiro espacial Rom, uma espécie de Surfista Prateado que, como seu modelo, sacrificou a vida para salvar seu planeta. 32 anos de espera do menino a quem os livros soterraram...

Por fim, a conclusão de outra saga, Ataques Atlantes, cuja segunda parte busquei naqueles idos por anos, em vão.

E a sensação de retornar ao momentum formador, e o prazer da conclusão, o gozo do desfecho, de completar um círculo cuja circunferência havia perdido, mereceu até este texto mais ou menos poético.

O garoto - agora com cabelos brancos -, empurrando filósofos alemães e romancistas russos para o lado da cama, vibrou novamente a velha corda.

Sammis Reachers


Um comentário:

lin-Ilustra disse...

Os clássicos sempre marcam!

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