Boa parte de minha adolescência foi devotada aos quadrinhos.
Na época, juntava dinheirinho por meses para poder ir aos sebos e bancas de
Niterói, comprar revistas usadas. Com o tempo, a melhora econômica me permitiu
até a poder comprar regularmente algumas revistas novas, em banca. Mas,
paralelamente, meu interesse por literatura crescia, e avançou até um ponto de
inflexão, onde eu conclui que teria que optar entre quadrinhos e literatura,
pois o tempo e os recursos gastos com HQs passaram a me significar de menor
valia.
O tempo passou, li os clássicos e os cretinos, li de quase
tudo e entendi que tudo era quase nada, pois o oceano da literatura não tem fim
ou fundo. Na memória do ex-marvete, ex-dcnauta, ficaram algumas lacunas,
histórias inconclusas, pois nunca pude encontrar em sebos as revistas onde elas
foram contadas, e não havia internet, a que hoje me permite comprar o livro ou
revista que eu quiser. E houve a troca de foco, e houve a vida, esse tumulto.
Então hoje, após o período produtivo de um dia de folga
(dedicado a criá-los, a meus sequestradores, os livros), fazendo uma busca
aleatória após o almoço, fui jogado num blog que publica quadrinhos antigos.
E meus olhos cansados de menino viram o de há muito cobiçado
e desistido. E eu, durante o resto da tarde e noite, pude tributar ao menino,
pude ler duas histórias (mais de 400 páginas no total!), na verdade a conclusão de duas
sagas da Marvel dos anos 80/90: o desfecho da Guerra dos Espectros, travada
pelo cavaleiro espacial Rom, uma espécie de Surfista Prateado que, como seu
modelo, sacrificou a vida para salvar seu planeta. 32 anos de espera do menino
a quem os livros soterraram...
Por fim, a conclusão de outra saga, Ataques Atlantes, cuja
segunda parte busquei naqueles idos por anos, em vão.
E a sensação de retornar ao momentum formador, e o prazer da
conclusão, o gozo do desfecho, de completar um círculo cuja circunferência
havia perdido, mereceu até este texto mais ou menos poético.
O garoto - agora com cabelos brancos -, empurrando filósofos
alemães e romancistas russos para o lado da cama, vibrou novamente a velha
corda.
Sammis Reachers
Um comentário:
Os clássicos sempre marcam!
Postar um comentário