quarta-feira, 5 de julho de 2017

O enfado a esquina a amizade e o sentido da vida

 

Aquele dia melancólico. Enfadante de lidar com enfadantes. De lidar consigo, pois contrário ao que errou Sartre, o inferno é o espelho. O primeiro deles. Quando a vida fica esvaziada de sentido, esse sopro pueril. Contando as horas para o fim do expediente, para ir para casa - mas que há em casa? Os mesmos afazeres, projetos e livros.
Você sai do trabalho, come umas esfihas, pois nem almoço tenciona preparar. Avança sorumbático pelas ruas, torre de melancolia que sinistramente respira e anda, e então encontra um dos velhos amigos. De repente, nesse horário tão improvável. A conversa se inicia, o crime, a política, a pouca-vergonha, fulano que enfartou, coitado.
Mas eis que um outro amigo, de infância e sempre, vem pela mesma rua. Três destinos que há tanto se contemplam, e que em muito marcharam juntos. E a conversa agora é uma explosão - gargalhadas e mímicas, eventos sujos e hilariantes que só os homens sabem relatar, anedotas e saudades preenchem duas horas de três homens, em pés numa esquina.
E você vai embora, mas agora a vida, essa vacuidade, está plena de sentido, transbordante de razões para ser. Se o inferno é o espelho, é sempre o próximo quem poderá quebrá-lo.

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