Aquele dia melancólico. Enfadante de lidar com
enfadantes. De lidar consigo, pois contrário ao que errou Sartre, o inferno é o
espelho. O primeiro deles. Quando a vida fica esvaziada de sentido, esse sopro
pueril. Contando as horas para o fim do expediente, para ir para casa - mas que
há em casa? Os mesmos afazeres, projetos e livros.
Você sai do trabalho, come umas esfihas, pois nem almoço
tenciona preparar. Avança sorumbático pelas ruas, torre de melancolia que
sinistramente respira e anda, e então encontra um dos velhos amigos. De
repente, nesse horário tão improvável. A conversa se inicia, o crime, a
política, a pouca-vergonha, fulano que enfartou, coitado.
Mas eis que um outro amigo, de infância e sempre, vem
pela mesma rua. Três destinos que há tanto se contemplam, e que em muito
marcharam juntos. E a conversa agora é uma explosão - gargalhadas e mímicas,
eventos sujos e hilariantes que só os homens sabem relatar, anedotas e saudades
preenchem duas horas de três homens, em pés numa esquina.
E você vai embora, mas agora a vida, essa vacuidade, está
plena de sentido, transbordante de razões para ser. Se o inferno é o espelho, é
sempre o próximo quem poderá quebrá-lo.
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