sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

As desventuras de William, o Mulherista



As desventuras de William, o Mulherista

A empresa carioca Irmãos Unidos abrigou, há alguns anos, um distinto morador do Salgueiro, bairro 'chapa-quente' de São Gonçalo, em seu quadro de motoristas. William era o nome do chofer, na época jovem e mulherista que só ele.
Efetivo na linha 176 (Central x São Conrado), William foi surpreendido, certo dia, ao ver embarcar em seu ônibus uma beldade de fechar o trânsito. Isso no tempo em que o embarque nos ônibus se dava pela porta traseira, ficando o desembarque, claro, sendo feito pela dianteira. Acompanhando pelos espelhos o embarque e o avanço da mulher pelo corredor do ônibus, William pensou: "Nossa! Essa mulher parece desfilar enquanto anda! Que deusa!".
Nos modelos antigos de ônibus, havia o banco alto na parte da frente, de ambos os lados. Era o chamado 'Jesus tá chamando', termo depreciativo mas também um pouco cômico, utilizado em virtude de tais bancos altos serem utilizados principalmente pelos velhinhos. Pois qual não foi a surpresa de William ao perceber que, mesmo estando o carro praticamente vazio, a beldade se dirigiu justamente para o banco dianteiro, o da direita. Sentou-se no lado do corredor. Imediatamente nosso amigo Will, boquiaberto, reparou no imenso par de coxas da morena. Ao perecer os olhares e a expressão de admiração de nosso amigo, ela sorriu suavemente e passou as mãos pela farta cabeleira, deixando o pobre William ainda mais embasbacado. "É agora!", pensou nosso amigo. "Com essa eu até me caso!"
E a viagem seguiu, com as trocas de olhares ficando cada vez mais quentes, enquanto William reunia coragem para puxar assunto com a deusa dourada. Amigos, a vida pode ser triste, e a sorte por vezes nos deixa na mão, nos piores momentos.
O banco alto não possui apoios, para quem senta-se do lado do corredor. Em sua frente não há em que segurar-se. Enquanto a mulher cruzava as esculturais pernas e não parava de passar a mão nos cabelos, cheia de veneno e charme, o agoniado William não sabia se dirigia ou se paquerava.
Numa dessas olhadelas, William, ao voltar-se para olhar a estrada, viu a traseira de um táxi já quase 'embaixo' do ônibus, a poucos metros. Não teve outro recurso senão pisar com toda força no breque. O carro cantou um pouco de pneu e estacou violentamente. Já a jovem deusa pareceu ganhar asas: estando com as mãos soltas sobre o colo, e as pernas cruzadas, foi forçada pela lei da gravidade a sair voando do banco, catando cavaco na parte próxima às escadas e rolando por sobre o capot do ônibus, indo parar com as costas no vidro para-brisas, e ficando agarrada entre o vidro e o capot. Ufa.
Ao levantar-se com dificuldade, a agora furiosa e descabelada deusa estava com outra feição. O sorrisinho sensual de momentos antes dera lugar a uma expressão de puro ódio. William, chocado, encolheu-se no banco de tanta vergonha. A mulher começou a desfilar os elogios:
– Seu babaca, seu cor$&, seu ve#%@! Filho da &%#$!!!! Para esta merda que eu quero descer!
William, gaguejando, desculpou-se e tentou perguntar se ela estava bem e se queria ir a um hospital. A fúria da morena pareceu aumentar, e ela cuspiu mais uns seis ou sete palavrões. Apanhando sua bolsa, desceu pelas escadas e seguiu seu caminho, botando fogo pelas ventas.
E foi assim que nosso desastrado companheiro William perdeu a paquera mais gata que já cruzou o seu caminho...


Essa é uma das quarenta histórias verídicas e hilárias do livro RODORISOS - Histórias Hilariantes do Dia-a-dia dos Rodoviários (à venda nas modalidades impressa e e-book, na Amazon).

Um comentário:

Touché disse...

Bem engraçado, deve ter muitas histórias parecidas com essa, o livro deve ser interessante. Valeu por compartilhar..

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