Mais um texto do livro Rodorisos - Histórias hilariantes do dia-a-dia dos Rodoviários.
Na época em que eu trabalhava como cobrador de ônibus no saudoso carro 087 da linha 49-2 (na cidade de Niterói), durante certo período em que o motorista efetivo do horário ficou de férias, a direção foi assumida por um outro companheiro, o motorista Anderson. Logo no primeiro dia, o pobre Anderson se envolveu, ou melhor, foi envolvido em um acidente: Um cidadão, com o carro estacionado entre a rua e a calçada, acreditou ter fechado a porta de seu carro – mas ela não se fechara, e aí... se abriu, lambendo a metade da lateral do ônibus, que passava no exato momento (e detonando totalmente a porta do camarada, é claro). Foi então que Anderson me disse que aquele já era o terceiro acidente em que era envolvido, em apenas um mês! Ele estava sinceramente preocupado e bastante aborrecido. Embora não tivesse culpa em nenhum dos três acidentes, era evidente a “maré de azar” que nosso amigo parecia atravessar.
No decorrer daquele dia de trabalho Anderson, meio na zoação, meio falando sério, começou a dizer que iria numa rezadeira para receber umas rezas e tomar um banho de descarrego.
Eu, como bom cristão, disse para ele que era melhor fazermos uma oração, ou ele procurar uma igreja. Mas, zoação vai, zoação vem, e pra aumentar a descontração eu resolvi escrever uma receita, uma bela e infalível receita de um banho de ervas capaz de limpar todo tipo de carma ruim, e abrir todos os caminhos.
Pois bem, tudo começou exatamente como brincadeira, eu havia escrito a receita à mão, numa folha de minha caderneta, e dado ao Anderson. Ele achou muito divertido e resolveu sacanear alguns amigos. Mostrou para um, enviou a foto da receita por Whatsapp para outro... até que nosso veículo se aproximou do despachante Paulo, alcunhado de Lobisomem (pois era peludo e sempre andava desgrenhado) ou Macarrão (seu prato preferido - comia numa bacia!). Anderson olhou para o bom Paulo e, sabendo que ele curtia uma curimba (macumba), resolveu apresentar a receita ao mesmo.
– Aí Paulo, chega aí amigo – chamou Anderson, fazendo Paulo subir na escada do veículo.
– Eu estava passando por uma maré braba, cara, tudo dando errado na minha vida, e aí eu resolvi ir numa rezadeira, uma rezadeira forte, lá do Catarina. Pô, a velha me deu uns passes e me passou essa receita aqui, dum banho de ervas. Eu tomei e foi bater e valer! Tudo mudou, cara!
Anderson falava muito sério, de sobrancelhas franzidas, cara de “brabo”. Eu, sentado na roleta, fazia força para não rir.
Em seguida Anderson apresentou a receita para o sofrido Paulo. Paulo a observou com espanto e muita atenção.
Eis o texto da “receita”:
RECEITA DE SIMPATIA
Para abrir caminhos (espirituais – financeiros – amorosos).
Banho de ervas. Modo de preparar: Reunir todas as ervas e ferver por 30 minutos EM FOGO À LENHA (não pode ser em fogão à gás).
Tomar 3 banhos, durante três sextas-feiras, sempre à noite. Não se enxugar.
Ervas:
Cipó cabeludo;
Canela em pau;
Saião socado;
Tromba de anjo;
Capim-boneca;
Bengala-de-boi;
Pau-ferro;
Pau-rosa;
Pau-de-remo;
Pau-d’alho;
Pau-pereira;
Pau-santo;
Papo-de-Peru.
Nota: Esta receita também é um poderoso afrodisíaco natural.
Pois bem, lá se foi o querido Paulo com a receita, todo feliz, como se tivesse achado uma nota de cem merréis.
No dia seguinte eu e o Anderson já estávamos fracos de tanto rir. Mas ao chegar no ponto de Paulo, para marcar a ficha (guia), ficamos sérios. Anderson, com aquela carranca, perguntou baixinho:
– E aí meu amigo, e aquela receita? Conseguiu fazer?
– Pô xará, tô tentando, tô tentando. Tô procurando as ervas, mas tá difícil. É muito PAU junto!!!
Sammis Reachers
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