Em 1986 eu tinha oito anos e a Konami era um vulcão, um vulcão já em inícios de sua plena explosão de magma criativo, cuja uma das apostas ou piroclastos (aquelas bolotas de fogo que um vulcão expele) era o título Castlevania. Nascido primeiramente para o Nintendinho, logo foi portado para o MSX (muitos acreditam, erroneamente, que foi o contrário), dando origem àquela que é a minha franquia preferida no mundo dos games. Minha e de muitas outras pessoas!
Mas, naqueles românticos e sofridos idos, a maior fonte de lucro das soft houses ainda eram os jogos para arcade. E foi assim que, dos interiores ferventes daquele vulcão chamado Konami, surgiu em 1988 o jogo Haunted Castle. O game, como outros depois dele (Super Castlevania IV, Vampire Killer, Castlevania Chronicles) foi uma versão/releitura do Castlevania original, mas com mudanças diversas.
Neste episódio da longeva saga, você encarna Simon Belmont, um dos patriarcas do clã dos Belmont, que lançou-se em resgate de sua noiva, Selena, que fora sequestrada pelo nefasto Conde Nefária. Ops!, perdão, pelo Conde Drácula!, primeiro e único, pois o Nefária é vilão da Marvel. Armado com um ardente chicote e alguns apetrechos, avançamos por belíssimos mas sinistros cenários, numa cruzada solitária contra as potestades das trevas. Só mesmo o amor para lançar um cabra nessa peleja! Como diz a Bíblia, na Primeira Carta de João, 4.18, "o perfeito amor lança fora todo o medo".
O jogo apresenta grande dificuldade. São muitos os motivos do verdadeiro "megaperrengue" que a jogatina proporciona, mas a meu ver a principal causa decorre pelo fato simplório de que... não há frango assado! Isso mesmo, o tradicional repositor de life - ou qualquer outro, gafanhoto assado que fosse - da franquia aqui inexiste: É peitar as forças das trevas com as vitaminas do Nescau que você tomou em casa, e nada mais.
Além de seu humilde chicote de couro de boi, que pode receber um upgrade ou ser trocado pelo glorioso Morning Star, aquele mítico & alquímico chicote de correntes que possui uma pequena maça de espinhos na ponta, Simon inova e pode trocar tais apetrechos articulados por uma longa espada.
As tradicionais armas acessórias, claro, também se fazem presentes: Aqui não temos a água benta, mas ela é substituída por uma bela bomba esférica à la Bomberman; a cruz, arma das armas e símbolo máximo da vitória de Cristo sobre as forças do inferno e da morte, está presente, mas a forma de ataque de tal arma é exclusiva desta versão: Três pequenas cruzes aparecem diante do personagem e são disparadas em linha reta, girando não da maneira "clássica" a que estamos habituados, mas de uma forma que... ah, você precisa ver para entender. Não possuem o efeito bumerangue, que se tornou tradicional nas versões de console. Falando em bumerangue, uma das sub-armas é um longo bumerangue, que se parece mais com um grande fêmur, e que possui a singularidade, única entre a vasta raça dos bumerangues, de NÃO VOLTAR para o bom Simon... Outra arma aparentemente exclusiva deste jogo, dentro da franquia, é uma prosaica tocha de fogo, que faz justamente o que fazem as tochas: Lançada, lasca fogo nos adversários. Fechando o arsenal medieval, temos outra tradição castlevaníaca, o relógio que paralisa o tempo. Mas, atenção: O jogo não oferece os tradicionais candelabros, e armas e corações - raríssimos! - só podem ser conseguidos eliminando inimigos específicos. Caso perca o inimigo determinado que "solta" aquela arma durante um estágio, será impossível pegar tal arma noutro ponto do mesmo estágio - talvez do jogo.
Para "contornar" a inexplicável ausência de repositores de sangue durante os estágios, ao passarmos de fase, sua barra de life é preenchida, mas só se você possuir corações. Nesse caso, o jogo CONFISCA seus corações, em número proporcional à quantidade de barrinhas a serem preenchidas. Já viu pilantragem semelhante?
Quanto aos inimigos de tela, os mitos fundadores também estão aqui, remodelados. Morcegos, múmias, esqueletos, cavaleiros e anões puladores fazem a festa halloween. Os movimentos do personagem, a exemplo do Castlevania do NES, são limitadíssimos: Pulos sem variação de intensidade e possibilidade de chicotear numa única direção. Bem, Castlevania foi erigido sobre essas dificuldades, e o jogador raiz já sabe o que esperar.
O jogo só oferece três continues, e cada um deles com uma única vida. Morreu, acabou. Mas há uma dica: Se você colocar quatro créditos e, durante o jogo, apertar o botão de start, a cada vez que tocar você aumenta sua barra de life, até o limite de poder combinar todos os quatro créditos. O porém é que, se você morrer depois disso, já terá utilizado todos os possíveis continues “em vida”, e aí é partir para a glória dos guerreiros de Cristo, e deixar o combate terreno contra as forças da trevas na conta de um sucessor. Bem, para isso existe o clã Belmont, hum?
Um grande destaque da franquia são os chefões. A aventura aqui inicia-se fora do castelo do velho Vlad, e em tais andanças por vilas e florestas, enfrentamos logo de cara a Medusa (no Castlevania 1 ela é o segundo chefão). Na fase seguinte é a vez de solaparmos as ossadas de uma grande serpente alada. Além dos já citados, temos o tradicional Frankenstein, acorrentado e num tamanho colossal. Ele vem no que se convencionou chamar de a fase do relógio (engrenagens), ao contrário do Castlevania 1 do NES, cuja fase do relógio é a da Morte (aqui feliz ou infelizmente ausente); o Cavaleiro Fantasma ou Cavaleiro de Cristal, esguio e saltitante, e com a cara (trolagem?) do Arthur de Gosts'n Goblins, é o próximo lacaio de Vlad a ser triturado - ou a triturar você. Em seguida, enfrentamos um gigante de pedra (Golem?). Por fim, será a vez dele, o sanguessuga da Valáquia.
O jogo é mal visto por muitos fãs em virtude principalmente de sua imensa, dantesca, draconiana dificuldade. No entanto, embora quase inzerável, o miserável faz parte (e é mesmo um dos primeiros rebentos) da longa família Castlevania. Assim, o fiel da saga não tem outro recurso além de peitar o desafio. Afinal, trair o clã nunca foi uma opção!
Ainda que o jogo seja condenável para muitos e por muitos motivos, numa coisa ao menos há consenso: A trilha sonora salva as honras, pois é excelente.
Agora é procurar uma coletânea Konami para seu console ou PC, ou o emulador mais próximo, e passar uma das maiores raivas de sua vida. Boa sorte!
Ah, uma última lapada de chicote: Em 1998 os criadores de jogos (e fãs da saga) da francesa Migami Games lançaram, por sua conta e risco, uma continuação do jogo. E em 2001 lançaram outro fan game: Haunted Castle III: Trevor's Quest. Há quem diga os jogos, apesar dos pesares, são bem melhores que o original.
2 comentários:
Muito bom meu irmão. Será uma matéria bem legal para a edição 6 de nossa revista. Eu já joguei no emulador e me diverti bastante, nada como os clássicos, mas quebra um galho e da para sorrir um pouco... kkkk. Forte abraço e que Deus abençoe!!!
Obrigado meu irmão Luiz. Realmente o jogo é divertido, mas excessivamente difícil rsrsrs. De toda forma, muitos não o conhecem.
Um abração!
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