BUENOS AIRES — Ao completar um quarto de século da morte do escritor Jorge Luis Borges, a Argentina evoca seu gênio e sua obra, citada entre os clássicos da literatura universal, embora sua eterna candidatura ao Prêmio Nobel tenha sido frustrada, aparentemente por suas posturas políticas.
“Deixou tanto, mas tanto, que seu legado ainda está se acomodando entre nós”, resumiu o premiado escritor argentino Ricardo Piglia (“Blanco Nocturno”) sobre a obra de Borges, morto há 25 anos na cidade suíça de Genebra, aos 86 anos.
As homenagens por ocasião do aniversário de falecimento se multiplicaram esta terça-feira de Buenos Aires a Veneza, onde a viúva do escritor, Maria Kodama, inaugurou um espaço em sua memória na forma de um labirinto, uma das obsessões na vasta obra do poeta, narrador e ensaísta.
Dezenas de escritores e leitores lembraram o autor de “O Aleph” na praça San Martín, no centro, um de seus lugares preferidos na capital argentina, e no centro cultural que leva seu nome na mesma cidade foi aberta a exposição “Histórias de um universo escrito”.
Considerado um dos maiores escritores em língua castelhana depois de Miguel de Cervantes Saavedra, Borges começou sua prolífica carreira em 1923, aos 24 anos, com seu livro de poemas, “Fervor de Buenos Aires”, e se encerrou em 1985, um ano antes de sua morte, também com a poética de “Os conjurados”.
Nesse período de 62 anos, o autor de “Ficções” publicou mais de 30 livros nos gêneros ensaio, poesia e narrativa, que foram traduzidos para 25 idiomas, além de escrever centenas de artigos em jornais e revistas.Sua influência na literatura deu origem ao chamado “estilo borgeano”, que deixou sua marca em autores de língua inglesa como Ian McEwan, Martin Amis, Salman Rushdie e em latino-americanos como o chileno Roberto Bolaño, o mexicano Carlos Fuentes e em seu compatriota, Julio Cortázar.
“Há algo de libertador na escrita de Borges; é o puro prazer do jogo de abstração literária”, disse McEwan (“Sábado” e “Amor sem Fim”).
Córtazar afirmou, por sua vez, que “a grande lição de Borges não foi a lição temática, nem de conteúdos, nem de mecânicas. Foi uma lição de escrita. A atitude de um homem que, diante de cada frase, pensou cuidadosamente não que adjetivo colocar, mas que adjetivo tirar”.
Borges recebeu dezenas de reconhecimentos de universidades e governos e muitos prêmios como o Cervantes, o mais importante da língua espanhola, mas sua candidatura de 30 anos consecutivos ao Nobel terminou frustrada, aparentemente por suas controversas posições políticas.
Entre suas posições polêmicas, em 1976, o autor de “Livro de Areia” foi premiado pelo ditador chileno Augusto Pinochet e elogiou o regime militar argentino (1976-83), embora em 1985 tenha voltado atrás e assistiu a uma das audiências do histórico julgamento dos chefes de governo de fato.
via http://www.livrosepessoas.com
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