Vago pelas ruas da cidade,
vago
pela rua das cidades
(pois há multiplicidade de mundos,
mas um só caminho)
e sobre minha cabeça
um céu oceânico é inundado pela fluição
das andorinhas, como a anos e anos não via
Andorinhas com algo de cósmicas,
criaturas francas, cujo viver
é um voo
recortado de rasantes
mas seguro
seguro como o samurai que cutila
andorinhas que golpeiam seu próprio destino,
sem qualquer flutuação de medo
vendo-as fluírem em seu voo torrente azul
em alvinegras lâminas que fulminam o céu
e fulminam-me pois baixo minhas defesas
lembro num lapso do poeta perdido que cantava (pois afinal
todos os sinos que dobram, dobram amorosamente por ti):
"E quando vejo o mar
existe algo que diz
que a vida continua e
se entregar é uma bobagem"
Mascaro então meu rosto
com um lenço negro
à maneira dos sub-reptícios assassinos do medievo japonês
(pois teus pequeninos escandalizam-se em minha melancolia, Senhor)
e mergulho nas sombras
torno à simbiose que me consome,
torno para consumi-la
com minha bolsa armada
pois há uma Missão da qual
eu havia olvidado,
surdo pelo horror pânico da urbe,
quando ela me matou
Os soldados regulares não aceitam
as missões suicidas
eis-me aqui, em toda a minha assimetria
com bolsos cheios de asas de andorinhas
afiadas no céu
com bolsos cheios de asas de andorinhas
afiadas no céu
seja a minha retaguarda
mas, ainda que não haja retaguarda ou
fruto qualquer na vide
(como naquele duro dia, Rei meu e Deus meu),
que importa quantas vezes tenho que morrer
para que viva o Teu nome?
E se não houver retorno,
"maior amor não há
do que dar alguém a vida
pelos seus amigos".
Hoje eu compreendo
porque fizeste-me navio sem âncoras,
e derrubaste todos os marcos antigos:
para que não fique ninguém para trás
a chorar-me, homem ou
cão
desamparado
de
mim.
Viva para sempre o Teu nome!
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