segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A CONTRADIÇÃO DOS SEBOS



Encontro num aeroporto um linguista, com itinerário comum ao meu.
Ao descrever a cidade que visitávamos, informou que encontrou um sebo muito bom, com coisas interessantes.
Ele me falou do livro que gostaria de publicar. Se publicado, acho, terá uns 300 leitores. Boa parte acabará num sebo
. O sebo é uma contradição. Neles se vendem o que ficou velho, mas algumas pessoas ainda querem.
As novas gerações deviam visitar os sebos.
Um bom livro não poderia ficar velho nunca, mas há um ciclo de vida para eles, o que é uma tristeza. Eis aí uma metáfora da vida.
Veja o caso de A.R. Crabtree. Ele era um hebraísta que, entre outros trabalhos, publicou um magnífico comentário à segunda parte do livro do profeta  Isaías (1967).
Estou com um exemplar nas minhas mãos, apreciando, além do comentário, a tradução que fez diretamente do hebraico, com preferência pelas cópias preservadas nos manuscritos de Qumran. 
Comprei-o nos ano 70, se é que não o herdei do meu pai.
Mas onde encontrar um Crabtree hoje?
Onde encontrar também um livrinho de grande valor escrito pelo casal Roy e Dale Rogers. Este é um livro para todos que têm na família um filho especial, que os dois chamam de "Meu anjinho desconhecido"?
Os bons livros não poderiam morrer. 
Um bom livro jamais poderia acabar num sebo.
Ainda bem que existem os sebos.

Israel Belo de Azevedo

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