O Paraguaio de Campina Grande
Everaldo trazia
muambas do Paraguai. Relógios especificamente. Era um paraibano branco, forte,
de cabelos à la Rambo. Eu trabalhei para Everaldo de 94 a 96, numa banca de
camelô em Alcântara, São Gonçalo. Vendia os mais finos medidores temporais de
toda a cristandade e além: era um harém da relojoaria universal, de todas as
marcas, da Suíça a Tókio, passando por Paris e Nova Iorque, a 20% de comissão. Eu
era um garotão viciado em quadrinhos, fliperamas e rock’n roll, e dava pra
viver meus vícios sem passar fissura.
Hoje tem alguma
graça, mas antes só me chocava o inusitado, o vão de tal morte: um caroço de
azeitona.
Foi em 2003, na
semana em que o então prefeito do Rio, César Maia, re-inaugurou o Pavilhão de
São Cristóvão, a Feira Nordestina. Tomava, assentado numa roda de conterrâneos,
uma cachaça vermelha, da terrinha, depois fui saber, dita ‘Santa Rita a
Vermelha’. Estranho nome para uma santa, ou cachaça, mas dá na mesma, pensei na
época. Engasgou com o tira-gosto, levantou-se já vermelho, deram-lhe socos nas
costas, e tapas, e mais socos, muitos socos pelo que me disseram, mas não
adiantou. Caiu ali, puseram-se a abaná-lo, mas já não havia ar, já não havia
anima (espírito) naquele corpo.
Tinha na bolsa
dez cordéis que me comprara, eu havia lhe encomendado. Eu adorava cordéis, como
adorava os livrinhos de western, de bolso, que brasileiros escreviam com
pseudônimos americanos. Pulp-fictions verdes e amarelos. Não sei por que digo
isso, não quero fugir do assunto, do Everaldo, mas sempre que me lembro dele
penso nos cordéis, ‘João Cabrobró contra Satanás’, ‘A rixa do Carcará contra o
Sapo-boi’, ‘Morte e Vida Severina’, e outras fugas da secura do sertão, da
secura nonsense e repetitiva da vida, do nonsense seco e tedioso da morte.
Sammis Reachers
Sammis Reachers
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