domingo, 16 de julho de 2023

De férias com Nintendinho: Cinco jogos de plataforma pouco conhecidos que vão te surpreender

Apresentamos aqui cinco bons jogos de plataforma, nem tão conhecidos, para debulhar num único fim de semana, ou nos dias das férias que você dedicar aos games. Cinco jogos baseados num mesmo tema ou mote: "Um homem, uma missão". Volte aos seus doze, quatorze anos. E, como diria o Ed do canal Aperte Start, só vem!



 VICE: PROJECT DOOM

Cite um jogo de plataforma à la Ninja Gaiden, um de corrida à la Road Fighter e um de tiro em pré-primeira pessoa à la Operation Wolf?

Opa, pensou em alguns nomes? Está difícil? Pois saiba que um só nome bastaria. Vice: Project Doom, jogo de 1991 da American Sammy, reúne essas três “categorias” num único game.

O clima noir, as cutscenes (novamente à la Ninja Gaiden), o charme de o jogo se iniciar assim que você liga o console, para só depois da primeira fase apresentar a tela de título (como em alguns filmes), tudo isso dá a Vice um toque especial, personalíssimo. 

Seu personagem é armado com um tipo de chicote laser (infinito), além de um revólver Magnum.44 e granadas, essas últimas finitas e coletáveis. A trama (acho que aqui seria treta) é a que segue: Uma raça de alienígenas, infiltrada há anos na Terra produz, via uma empresa (BEDA Corporation) de fachada, uma substância para seu próprio alimento. Acontece que tal guloseima possui efeito narcótico sobre humanos, dando início a um esquema de tráfico. O esforço para desvendar todo esse imbróglio envolve o detetive Hart (você!), um seu amigo desaparecido, uma namorada, uma amiga aleatória, clones seus e chumbo trocado em meio mundo. Noir, biopunk, sci-fi: Ao meu humilde ver, Vice apresenta uma trama sofisticada e à frente de seu tempo, ou das capacidades do console. 



Kick Master

Cite um jogo onde você, solitário paladino das forças da luz, deve enfrentar todo o bonde das trevas - caveiras, dragões, minotauros e monstros os mais diversos? Castlevania? Seria, mas aqui em Kick Master (KID/Taito, 1992) falta um detalhe: O chicote. E assim você deve avançar na base dos socos e, como o nome diz, dos chutes. Mas nem só por coices e bordoadas vencerá o justo: Doublé de lutador marcial e aprendiz de feiticeiro, a cada fase você pode adquirir de uma a duas magias diferentes, cujos itens são coletados seja na fase, seja ao derrotar chefes e subchefes. Não fazem milagre, mas... O jogo conta com sistema de level, então, atenção: Deu continue, lá se vai a experiência acumulada. Uma pegada interessante do jogo: A cada inimigo normal ou chefe derrotado, o mesmo libera três itens ou powerups diferentes, cada qual voando numa direção. Nunca é possível pegar os três; assim, você deve manjar logo o que mais lhe interessa e tentar apanhá-lo no ar, antes que caia. Esta lista lhe ajudará: Coração = repõe life; caveira = tira life; escudo = eita, esqueci este e os demais...

A trama é a de sempre, aquilo que eu chamo de Clichê Master: Um bruxo poderoso sequestrou a princesa - não sem antes executar toda a família real - e tenta tomar o reino para si. Você é Thonolan, membro sobrevivente da Guarda Real encarregado de, como dizemos no Rio de Janeiro, "fazer o pau cantar na casa de Noca".

Um jogo belíssimo, com chefões desafiadores, e um leque de movimentos do personagem bem amplo. Se não conhece, afie os punhos - aliás, os pés - e bora lá!



Astyanax

Em 1990 a saudosa Jaleco, após lançar o belo Astyanax para arcades, resolveu fazer um port para NES. Péra, port nem tanto assim, que há muitas diferenças entre os dois games. Mas nosso interesse aqui é a aventura nintendinhoniana. 

Neste belo jogo de grandes frames, você representa Astyanax, parrudo & armadurado guerreiro. Suas armas são um machado, uma clava e uma espada (selecionáveis, mas a cada morte você perde uma delas). Há ainda o golpe especial (magia), que se esgota rapidamente. Pequenos totens na tela liberam powerups, ou convocam uma pequena fada (!!!) que auxilia o solitário guerreiro em sua cruzada. Péra, cruzada é um termo Medieval, - o professor de História vai bradar "anacronismo!" - e estamos aqui aparentemente numa espécie de Antiguidade - ou num mundo que a simula.  Falando em cronos (tempo), em tempo: Nosso paladino é na verdade um estudante norte-americano de dezesseis anos, que costuma ter repetidos sonhos com uma certa princesa. Belo dia, marchando para as lides escolares, o jovem sonhador se vê transportado - não mais que de repente - para a bela e perigosa terra de Rimlia. Lá ele conhece a fada Cutie (aquelaaa...), que lhe explica que a voz em seus sonhos era a da princesa Rosebud, agora mantida refém em mãos do vilão Blackhorn. E o resto é contigo, garotão!

As fases são curtas, mas apresentam sempre dois sub-chefes, seguidos de um chefão mitológico, de grandes proporções. Fique tranquilo: A cada estágio, seu sangue é recarregado. 

Pensa num jogo NES padrão, clássico, sem muita firula mas a postos para embalar uma das tardes desse seu fim de semana ou período de férias agitado? É Astyanax.



Shatterhand

Um joguinho estiloso, assim como é estiloso seu personagem. Sua arma aqui é o bom e velho punho, mas há upgrades: Ao longo das telas, você apanha powerups em forma das letras gregas alfa e beta. Ao completar três letras, os deuses da tecnologia invocam um belo orb, um robô que acompanha seu avanço e executa disparos variados - alguns apelões. Há oito robôs possíveis, conforme a combinação das letras que você conseguir. Ao aparecer uma letra, você pode golpeá-la para que vire outra, mas cuidado para não exagerar ou ela vira uma moeda. As moedas, por sua vez, ajudam o personagem a ganhar itens ao subir em determinadas plataformas (restauro de sangue, aumento do ataque ou vida extra). 

Tudo bem, seu personagem poderia ser um pouco maior na tela, não tanto como o anterior - Astyanax - mas ao menos no tamanho do Simon Belmont. De toda forma, isso não chega a impedir a diversão, e ela é na verdade farta!

Estamos no ano de 2030. Um grupo de soldados da fortuna, a organização Metal Command, planeja tomar o mundo através de um exército de ciborgues. Seu personagem, o policial Steve Hermann, perdeu os dois braços num confronto contra tais criminosos. Mas teve uma segunda chance: Recebendo dois braços cibernéticos, foi alistado com a missão de acabar com a Metal Command e seu líder, o general Gus Grover.

Amigos, esse game tem muito mais enredo: No Japão, ele é originalmente o jogo do tokusatsu Solbrain - dele surgiu este port americano, Shatterhand; e, no Brasil, a galera do primeiro tokusatsu brasileiro, Insector Sun, conseguiu a proeza de fazer um hack em cima deste jogo, com textos em português e tudo. Ficou muito bacana, e essa história é contada pelo amigo Luiz Miguel Gianeli num artigo na revista Oldbits #04 (2020).

Esse filho da Natsume, publicado pela Jaleco, deu o ar da graça em 1991. 



Kabuki: Quantum Fighter

No tempo dos fliperamas, nunca fui um grande jogador de Samurai Shodown. Sempre preferi a franquia KOF. Mas me lembro de que Samurai foi o primeiro jogo de fliperama que zerei NA PRIMEIRA FICHA. Sim, um belo dia, entediado de esperar a cabine de KOF desocupar, resolvi tentar a sorte no Samurai e, apelando com um certo golpe do personagem Earthquake (o lendário "Gordão"), zerei de primeira. Mas, doravante, sempre que ia jogar o game, para variar, utilizava o personagem Kyoshiro Senryo, um dançarino de teatro kabuki, armado com um tipo de foice. Gostava dele pela facilidade de aplicar os golpes.

Todo esse preâmbulo é para falar que o personagem do jogo Kabuki (HAL, 1990) é, assim como o Kyoshiro de Samurai, um ator/dançarino do teatro tradicional japonês Kabuki. Ambos, por sinal, golpeiam utilizando a longa cabeleira. Na verdade, Kabuki surgiu em 1990, e Samurai estreou em 1993... Quem sabe rolou uma inspiração?

Além das lambadas de cabelo - cabelo que é usado ainda para dependurar-se e, deixe-me avisá-lo, aqui você precisará de maiores habilidades em salto do que em Ninja Gaiden -, nosso herói pode efetuar disparos - o select seleciona a arma da vez - mas a munição é contada. Você começa com apenas um tipo de arma e, a cada adversário defenestrado, adquire um novo tiro. Powerups constantes obtidos ao eliminar os inimigos de tela repõem suas barras de life e munição.

E a trama? Estamos no futuro, mais exatamente em 2056, e você é o Coronel Scott O'Connor, que transferiu sua consciência para um agente virtual de combate. O motivo disso é que um vírus de origem desconhecida se apossou do principal computador de defesa da Terra. Assim, você está convidado a mergulhar - literalmente - num jogo, assumindo a personagem de um dançarino kabuki, pois tal representação é familiar ao computador. Ou seja, você é um cara jogando um videogame no qual seu personagem está jogando um videogame. Um metagame, diria um acadêmico. Ah, e o perrengue é livre. Confira.

*     *     *

Sammis Reachers é poeta, escritor e editor. Dá aulas de Geografia nas horas largas. Acabou de publicar um romance de ação e aventura, A Ordem Luterana da Cruz Combatente.


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