PRAZER O MEU
O cara que nunca vi na vida me segue pois viu que escrevi um artigo sobre games, faço parte de uma equipe, pareço entender do riscado. Mas aí – o cara para quem os videogames são a vida – vasculha as redes e percebe que quase não falo do assunto, e estou absorto em aleatoriedades as mais insossas, sou o mais infrequente dos jogadores. O cara dessegue.
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O cara que nunca vi na vida me segue pois leu um texto meu, viu meu nome em algum lugar – eita, que nome estranho, e o tal nome estranho domina a poesia, o conto, a crônica, ele adapta, traduz, ele edita de tudo, um monstrinho, um diabo, um anti-herói? – mas ao dar uma olhada nas redes, o cara que ama a literatura como cátedra e magistério vê que ao lado de literatura falo de videogames, posto fotos de gatos, piadas machistas ou insossas, e simplicidades da maior das indignidades. Um moleque, um charlatão? O cara dessegue.
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O cara que nunca vi na vida me segue pois sou um mobilizador missionário. Mantenho um blog de duas décadas, já publiquei mais de dezena de livros e recursos, tudo gratuito!, devo ser louco ou herói. Aí vendo minhas redes o cara percebe que não falo de missões nelas, pois são redes de relaxamento. E a teologia também não aparece muito. Sou um crente dos piores, da periferia da fé, da santidade, da virtude que você quiser. O cara – para quem a obra missionária é tudo, com a seriedade que ela exige, (bem, e este deve ser o único certo aqui) – se escandaliza e dessegue.
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O cara vê que falo mal de Lula e Bolsonaro, que já votei nos dois e sonho com o fim de ambos, isso quando sonho - sou ocupado. O cara dessegue com ódio, sua única força.
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Eu me divirto, na falta de coisa melhor pra fazer. Não tenho mesmo muito tempo. Eu não mudo pois não me importo. Sofri até os 12 tentando um encaixe ou compreender o mundo – minha mãe, anja de roça, me levava em macumba, igreja, psicólogo. Dei trabalho. Dali aos 14 ensaiei entre tumba e crisálida, mas nos 15 estava livre. Era Sammis, meu inferno e minha singularidade. Sem papas na língua, sem dependências, sem associação alguma com qualquer manada, nem submissão a Mamon. Minha mãe partiu em novembro do ano passado, aos meus 46 anos, e eu era o orgulho dela. Isso me importa. O resto é a vida, sua carga, seu fulgor, sua missão. Cheia de pedras, pássaros e próximos, a quem é preciso amar, malgrado o abismo que separa os homens.
Sammis Reachers
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