terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um poema de Mia Couto - Companheiros

Quero
escrever-me de homens.
Quero
calçar-me de terra.
Quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho.

E quando ficar sem mim,
não tereri escrito,
senão por vós,
irmãos de um sonho,
por vós,
que não sereis derrotados.
Deixo,
a paciência dos rios,
a idade dos livros.
Mas não lego,
mapa nem bússola,
por que andei sempre,
sobre meus pés,
e doeu-me,
às vezes,
viver.
Hei-de inventar
um verso que vos faça justiça.
Por hora,
basta-me o arco-íris.
Em que vos sonho,
basta-te saber que morreis demasiado,
por viverdes de menos,
mas que permaneceis sem preço.

Companheiros.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...